Eu
descobri que te amo mais do que te amo,
como uma saudade
benevolente, como um galanteio ao pecado,
como uma nota de uma canção
triste, que no final nos faz sorrir.
Eu descobri que o tempo é
feito de partículas pequenas
que misturam pepitas e
poeiras,
que entre a lágrima e o
riso, há um intervalo sorrateiro,
cheio de acuidade,
esperando o próximo passo
para desencadear em nós, o
brilho, o raspar da garganta, o crispar na alma do
aveludado dos cheiros.
Eu
descobri que te amo mais do que te amo,
porque o humor que me fere,
que me provoca a gargalhada instantânea,
caminha junto da tua
distração, da tua forma de ver
e interpretar os arredores
que se mostram.
Eu tenho uma química com o
teu riso,
uma química com teu olhar,
algo que me faz aproximar
sem primeiro armar minhas
defesas, sem me proteger,
como se me contentar
contigo, fosse algo certo e preciso.
Eu
descobri que te amo mais do que te amo,
porque os meus segredos,
aos poucos, foram sendo os teus segredos
e não sei como tiraste de
mim aquilo que eu sequer sabia existir.
Afugentastes os meus
demônios e alguma coisa de crença grudou em minha pele,agora acredito que o vento
possui asas, que o impossível não existe e que a vida pode ser um
outdoor iluminado. Aos poucos, sem que eu me
desse conta, sem que minhas roupas
surradas soubessem... tu me despiu.
Eu
descobri que te amo mais do que te amo.
Que existe uma outra
dimensão que brinca com as nossas sombras,
que nos aumenta ou diminui
conforme o sol,
que sendo sol, podemos ser
sol junto ao sol.
que a metafísica dos galhos
secos não carece de entendimentos,
apenas a constatação de que
é efêmera a vida,
mas que, mesmo assim,
precisa ser vivida para que os pássaros
possam pousar nos nossos
braços e cabeças
porque, senão, não teremos
canções madrugadoras,
fortuitas, gratuitas e com
sustos de encantos.
Eu
descobri que te amo mais do que te amo,
por que a tua ausência me
faz desatinar canções para eu estar perto de ti
e a tua presença me faz
desatinar as mesmas canções
para que os teus olhos
possam sorrir e, assim, me engolir,
desesperadamente libertos.
Eu
descobri que te amo mais do que te amo,
pois, minha liberdade teima
em criar algemas e se por a tua mercê.
É um estado de permanente
gozo, é acariciar os teus cabelos embaraçados.
Meu corpo de cicatrizes,
ganhadas entre um tropeço e outro, se morde de vontade tua,
te desenha os seios, o sexo enquanto falo aos teus
sentidos da magnificência
do prazer de se estar
perto, das conjecturas ensimesmadas do sentir.
E só assim eu me vi vestida do seu amor, vi seu corpo e o meu juntos, vi você sair de mim como se levada pelo vento fosse...