Ela teve um companheiro, se é que podemos chamar aquilo de companheirismo. Três filhos que não deram orgulho em nada. O mais novo morreu aos 17 anos, assassinado, foi tirado dos braços dela.
Depois disso ela se acabou, era uma morta viva. Varria a rua quase toda, catava tudo que era reciclável pra fazer um dinheirinho. E os vizinhos sempre agradavam a pobre com um sanduíche, um café...
E aquele ser, tão magricela, pele e osso, sorriso desdentado, quase sem cabelo, estava sempre ali, esperando... Esperando... O que será que ela esperava? Acho que não esperava nada da vida, só o café cedinho, o almoço e a janta. O que será que leva uma pessoa a viver assim? Tão entregue a coisa nenhuma...
Será que ela teve escolha, e acabou optando pelo caminho errado? Eu não acho que ela teve.
Ela era tão pequena, tão sem força... Tão sem nada...
Fiquei pensando nela; amanhã quando eu sair pra caminhar, a pedra que tem na frente do seu portão, onde ela sentava, estará vazia. O meu percurso será o mesmo, tenho que pagar umas contas, passar no mercado, voltar pra casa. E ela, não estará lá no cantinho dela, esperando. Mas esperando o que? Eu me pergunto...
Acho que ela esperava a morte. Porque já tinha morrido em vida, e pra ela nada mais restava. E ela veio, porque chegou a hora.
Dá um medo né? A gente não sabe a hora que vai. Agora tem um exame que diz se você tem muito tempo de vida ou não. Mas eu não sou doida de querer fazer. Imagina se o médico diz que eu tenho pouco tempo. Acho que nesse caso ele até diminuiria. Porque a dor de saber, já me roubaria alguns anos. Então amado leitor, essa é para você que deixa tudo pra depois, que fica pensando se vai dar certo ou não, e não arrisca. Pra você que fica sentada na pedra esperando não sei o que...
Vamos levantar e arriscar?
Esse post é pra você, Neuza.
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